TV Globo 60 anos: do Vídeo Show ao 'Show 60 Anos' e a estreia da TV 3.0

TV Globo 60 anos: do Vídeo Show ao 'Show 60 Anos' e a estreia da TV 3.0

Um show para contar a história da TV

Em 28 de abril de 2025, a Globo parou a própria grade para olhar para trás e acelerar para frente: TV Globo 60 anos no ar e o marco dos 100 anos do Grupo Globo. O especial "Show 60 Anos" assumiu esse papel sem cerimônia, com palco lotado, números musicais pensados para atravessar gerações e quadros que costuraram a memória da TV brasileira com o jeito de consumir conteúdo hoje.

O programa teve direção de Gian Carlo Bellotti, Dennis Carvalho e Renan de Andrade e produção dos Estúdios Globo em parceria com a Xuxa Produções — uma união que deu escala de show ao vivo com precisão de estúdio. No comando dos momentos-chave, rostos conhecidos do público, como Poliana Abritta, Flávia Alessandra e Fabi Alvim, ajudaram a guiar a plateia por décadas de bastidores, sucessos e viradas tecnológicas.

O desenho do especial foi simples e eficiente: blocos temáticos que revisitavam novelas, humor, jornalismo, esportes e programas de variedades, intercalados com encontros improváveis e releituras de trilhas sonoras icônicas. A estética passeou do brilho dos anos 80 à linguagem de multicâmeras e LED da TV atual. Nada de museu: arquivos restaurados apareceram ao lado de performances novas, numa lógica que lembra aquela animação que a internet adora — a de ver clássico e novidade na mesma tela.

Teve também um carinho explícito com a turma que cresceu assistindo a quadros de bastidores. A vibe do “Vídeo Show” apareceu em pílulas: making of, encontros de elencos, bastidores de aberturas e curiosidades de produção que sempre renderam assunto no intervalo do almoço. Esse resgate não foi gratuito. A Globo usou a memória afetiva para reforçar valor de marca enquanto dava pistas sobre o que pretende para a próxima década: mais arquivo vivo, mais interação, mais conversa com o streaming.

O especial ainda marcou o centenário do Grupo Globo, cuja origem remete ao jornal O Globo, fundado em 1925. Ao encaixar TV, streaming e digital no mesmo roteiro, a emissora fez um aceno claro à sua própria transformação. A mensagem foi direta: dá para celebrar legado e, ao mesmo tempo, mexer no motor da próxima fase.

Remakes, streaming e a aposta na TV 3.0

Remakes, streaming e a aposta na TV 3.0

As comemorações não ficaram restritas ao palco. O pacote incluiu uma jogada de catálogo com cheiro de clássico: o remake de Vale Tudo, refilmagem do fenômeno de 1988, originalmente escrito por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Em 2025, a nova versão assinada por Manuela Dias, com direção artística de Paulo Silvestrini, saiu do forno com ambição de novela-evento — e entregou resultado.

No streaming, a novela virou case. Segundo a emissora, o remake quebrou recordes históricos no Globoplay e se tornou a produção de maior alcance da plataforma. O efeito transbordou para as redes sociais, com mais de 2 milhões de menções e a hashtag #ValeTudo em alta no Brasil por 200 horas ao longo de 100 capítulos. Na TV aberta e no digital somados, mais de 134 milhões de brasileiros viram a trama desde a estreia, em 31 de março de 2025. Para o mercado publicitário, números assim valem ouro: 16 marcas participaram em 76 ativações de branded content.

Essas ativações já não ficam só no merchan clássico. Elas aparecem em cenas, desdobram para conteúdos digitais, viram desafios e experiências que prolongam a conversa fora do capítulo. A Globo vem usando esse modelo como resposta ao consumo fragmentado: o público vê quando quer, onde quer, e a marca precisa estar ali, de forma natural, sem quebrar a história.

Vale Tudo sempre foi discutida por tocar em ética, poder e dinheiro — temas que não ficam datados. O remake atualizou a conversa sem perder o espírito original: personagens que a gente ama odiar, dilemas morais cravados no cotidiano e aquela pergunta incômoda sobre o preço de “dar um jeitinho”. Ao amarrar a dramaturgia a uma estratégia multiplataforma, a Globo transformou nostalgia em audiência e audiência em negócio.

O outro pilar da festa foi tecnológico. No dia seguinte ao especial, 29 de abril de 2025, a emissora ligou sua primeira estação piloto DTV+ (TV 3.0) no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. O que isso muda? A promessa é um salto de experiência: vídeo em ultra-alta definição com mais contraste e cores, som mais limpo, interatividade na tela, conteúdo personalizado, publicidade segmentada e um híbrido TV-banda larga que junta sinal aberto e internet sem que o usuário perceba a costura.

Na prática, o DTV+ cria um ambiente em que a transmissão tradicional conversa com recursos online em tempo real. Dá para ver um programa e, se fizer sentido, acessar conteúdos extras, estatísticas, bastidores, escolher ângulos, responder enquetes ou receber serviços públicos e alertas de emergência na própria TV. Para o mercado, entra em cena a publicidade endereçável: anúncios que mudam conforme o perfil de quem assiste, com métricas melhores e mais eficiência na campanha.

O piloto de 2025 serve para testar cobertura, qualidade de imagem, usabilidade e modelos de negócio. A previsão de estreia comercial nacional é 2026, casada com a Copa do Mundo, quando a demanda por esportes em alta definição turbinaria a adoção. A tendência é começar pelas capitais e avançar conforme fabricantes e emissoras preparem equipamentos e prazos. Para o público, a adoção dependerá de TVs e conversores compatíveis; o detalhamento regulatório do cronograma ficará a cargo das autoridades do setor.

Essa virada técnica dialoga com a mudança de hábito que já aconteceu: o brasileiro não separa mais TV e internet. Liga a TV, abre o app, maratona novela, comenta no celular e volta ao ao vivo. A Globo organizou sua comemoração para caber nesse cenário. O “Show 60 Anos” puxou a memória; o remake de Vale Tudo mostrou fôlego narrativo com performance digital; o DTV+ apontou para a próxima fronteira do broadcast.

Do ponto de vista de indústria, é uma mensagem para o mercado publicitário: audiência ainda é grande, mas agora vem com dados e segmentação. O pacote de 16 marcas e 76 ações em Vale Tudo sinaliza apetite por projetos que cruzam TV aberta, streaming e social. Com o DTV+, a ideia é fechar o arco: entregar alcance de massa com mensuração fina e experiências interativas, sem fricção para quem está no sofá.

Também teve um componente simbólico importante na escolha de quem contou essa história. Ao convocar nomes como Poliana Abritta, Flávia Alessandra e Fabi Alvim e colocar veteranos e novos talentos no mesmo palco, a emissora reforçou a ponte entre gerações que ela mesma ajudou a construir. O entretenimento ao vivo, que sempre foi marca da casa, virou vitrine para dizer “seguimos aqui, mas mudando junto com você”.

Se o aniversário serviu como retrospectiva, ele funcionou também como ensaio geral do que vem aí. A Globo testou formatos, atualizou clássicos, trouxe bastidores de volta à conversa e colocou no ar a base técnica que pode redefinir a TV aberta brasileira nos próximos anos. A aposta está feita: memória e inovação no mesmo pacote, com a tela grande no centro e todas as outras orbitando ao redor.

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