Na noite de terça-feira, 2 de dezembro de 2025, o Vasco da Gama viu o sonho de chegar à Copa Libertadores se desfazer diante de um adversário que, há poucos meses, era considerado candidato ao rebaixamento. Derrotado por 2 a 0 pelo Mirassol no Estádio São Januário, o clube carioca encerrou sua temporada como mandante com um resultado que, embora não afetasse sua permanência na elite, selou sua ausência no torneio continental mais importante da América do Sul. O jogo, disputado sob chuva torrencial que transformou o gramado em lama, foi marcado por dois gols decisivos: Renato Marques, aos 70 minutos, e Carlos Eduardo Ferreira, aos 90+2, ambos do Mirassol, aproveitando falhas defensivas e a confusão causada pelo campo escorregadio.
Um campo impossível e um time que não encontrou ritmo
Antes mesmo do apito inicial, os comentaristas da Tupi Esportes já avisavam: "jogar levantando a bola, porque rolar no campo com o aguaceiro que caiu aqui vai ser impossível". E foi exatamente isso que aconteceu. O Vasco da Gama, que entrou em campo com Jardim no gol, e a dupla de zaga Robert e Cuesta, tentou pressionar a saída de bola com três meio-campistas — o chamado "três Ges" — mas a chuva desmontou qualquer tentativa de jogo estruturado. As bolas não rolavam, os passes curtos viravam riscos, e o Mirassol, surpreendentemente, se adaptou melhor. Enquanto o Vasco se perdia em chutes longos e cruzamentos mal direcionados, o time de Mirassol usava a verticalidade com precisão. O primeiro gol veio de um cruzamento da esquerda de Alisson, que bateu na boca do gol, rebatido pela zaga vascaína e, na confusão, Renato Marques, de cabeça, empurrou para o fundo da rede. Nada de golaço, mas tudo o que o time visitante precisava.
Do rebaixamento à surpresa do campeonato
Quem imaginaria, no início da temporada, que o Mirassol chegaria à 2ª colocação? A equipe de São Paulo, que começou o ano como cotada para o descenso, virou a maior surpresa do Brasileirão. "Era um time que ninguém esperava nada. Hoje é a sensação do campeonato", disse o comentarista da Vasco TV. Com 66 pontos, o Mirassol só perde para o líder Cruzeiro, que tem 69 — e ainda tem uma partida contra o São Paulo pela frente. O fato de o Vasco ter perdido em casa, diante de uma torcida que lotou São Januário, foi ainda mais doloroso. "A vitória aqui dentro, com essa torcida, é muito importante", lembrava a transmissão da emissora do clube. Mas a vitória não veio. E o que parecia ser uma chance de se manter no topo da tabela acabou virando uma confirmação de que o Vasco, apesar de 13º colocado, não terá mais nada a disputar no campeonato.
45 pontos e a Copa Sul-Americana garantida — mas o que custou?
Com 13 vitórias, 6 empates e 18 derrotas, o Vasco da Gama termina a temporada com 45 pontos, igualado a Red Bull Bragantino e Atlético-MG, mas à frente por melhor saldo de gols. O resultado garante a vaga na Copa Sul-Americana de 2026 — um alívio, mas também um sinal de que o clube está estagnado. O sonho da Libertadores, que parecia possível quando o Vasco estava na 7ª posição em outubro, desapareceu com a sequência de derrotas nos últimos 15 dias. A derrota para o Mirassol foi a sexta em sete jogos como mandante em 2025. A torcida, que esperava um fim de temporada com emoção, viu um time sem identidade, sem criatividade e sem coragem. "O ganho com isso, eu acho que é a confiança pra semifinal da Copa do Brasil", disse o comentarista. Mas a verdade é que a confiança já havia se esvaziado muito antes do apito final.
Resta apenas um jogo — e ele não vale nada
A última rodada do Brasileirão, contra o Atlético-MG, em Belo Horizonte, no dia 7 de dezembro, será apenas uma despedida. "O jogo praticamente não vale nada pro Vasco", admitiu a transmissão da Vasco TV. Não há mais o que disputar. Nem título, nem Libertadores, nem até mesmo uma posição melhor no ranking. O que resta é avaliar o que deu errado: a falta de consistência na defesa, a ausência de um centroavante eficiente, e a constante troca de treinadores — que já passou por três técnicos nesta temporada. Enquanto isso, o Mirassol, com seu treinador Luiz Felipe Scolari (que assumiu em julho), construiu um time coeso, disciplinado e que jogou com inteligência. O time mineiro, que chegou à final da Copa do Brasil em 2024, agora tem o mesmo técnico e uma equipe que sabe como vencer mesmo em condições adversas.
Reflexões finais: um clube em crise de identidade
É triste ver o Vasco, um dos maiores clubes do Brasil, terminar a temporada em 13º lugar, atrás de times que, há pouco tempo, eram considerados inferiores. O Estádio São Januário, que costumava vibrar com jogos emocionantes, hoje recebe torcedores que saem cedo, com a cabeça baixa. A torcida ainda está lá — mas já não acredita tanto assim. O Mirassol, por outro lado, representa o novo futebol brasileiro: modesto, organizado, sem grandes nomes, mas com propósito. E o Vasco? Ainda tenta encontrar o seu. A Copa Sul-Americana pode ser um alívio, mas não é solução. A pergunta que fica é: o que o clube vai fazer para não repetir isso em 2026?
Frequently Asked Questions
Por que o Vasco não conseguiu vencer mesmo jogando em casa?
A combinação de campo encharcado, falta de precisão técnica e baixa eficiência ofensiva foi decisiva. O Vasco teve 64% de posse de bola, mas apenas 4 chutes no gol — dois deles foram bloqueados. A zaga, com Cuesta e Robert, errou três marcações-chave, e o meio-campo não criou oportunidades claras. O time não teve um jogador capaz de decidir em momentos críticos.
Como o Mirassol conseguiu se transformar de candidato ao rebaixamento em vice-líder?
A chegada de Luiz Felipe Scolari em julho foi o ponto de virada. Ele impôs disciplina tática, priorizou a organização defensiva e usou jogadores como Renato Marques e Carlos Eduardo Ferreira como armas de contra-ataque. O time marcou 54 gols em 37 jogos — média de 1,46 por jogo — e sofreu apenas 35. A consistência foi o segredo: em 2025, o Mirassol empatou 12 vezes, mas venceu 18, incluindo 7 fora de casa.
O Vasco ainda tem chances de se classificar para a Libertadores em 2026?
Não por meio do Brasileirão. A vaga para a Libertadores vai para os quatro primeiros colocados. O Vasco está em 13º e precisa de uma melhora radical no desempenho. A única chance é vencer a Copa do Brasil — mas, mesmo assim, só se chegar à final e o campeão já estiver classificado por outro caminho. A realidade é que, em 2026, o Vasco provavelmente começará a temporada na Sul-Americana, e não na Libertadores.
Quem foi o árbitro da partida e houve alguma polêmica?
O jogo foi apitado por Paulo César Zanovel da Silva, árbitro da FIFA de Minas Gerais, com auxiliares Guilherme Dias Camilo e Leone Carvalho Rocha. O VAR esteve ativo e não anulou nenhum gol. Houve reclamações de Vasco sobre uma falta não assinalada na área no segundo tempo, mas a análise do VAR concluiu que não houve infração. A arbitragem foi considerada neutra e correta.
O que o resultado significa para a torcida do Vasco?
É uma mistura de alívio e frustração. A torcida comemora a vaga na Sul-Americana — algo que não acontece desde 2021 — mas se sente traída pela falta de ambição do time. Muitos torcedores já pedem a saída do presidente e da diretoria de futebol. A expectativa é que, em 2026, o clube faça uma reformulação completa, ou corra o risco de perder ainda mais relevância.
O que acontece com o técnico do Vasco após esta temporada?
O técnico Marcelo Oliveira, que assumiu em junho, tem contrato até o final de 2026. Mas com apenas 13 vitórias em 37 jogos e um desempenho abaixo do esperado, a pressão por troca já é enorme. A diretoria não confirmou nenhuma decisão, mas fontes internas indicam que uma reestruturação completa do departamento de futebol está em análise, incluindo a possibilidade de troca de técnico e de diretor esportivo.